No feriado do dia 1º de maio e nesta semana, as equipes de produção e vídeo da Subterrânea visitaram Luísa Nóbrega, em Bagé, onde a artista realiza o projeto “Em nome do pai ou veemência, culto”, selecionado pelo edital VETOR. No Pampa há três semanas, Luísa frequenta diariamente o culto da igreja Deus É Amor para realizar a experiência do ritual evangélico – parte das propostas de sua pesquisa artística.

Foto: Isabel Waquil

Foto: Lilian Maus

Inicialmente investigando as problemáticas da voz e do corpo, a artista expandiu a pesquisa para as questões do sangue e do sacrifício presentes no discurso do culto. Ademais, a região do Pampa também propiciou uma reflexão neste contexto de protagonismo da carne e do animal, ampliando as formas de atuação na residência. Perpassam todas estas questões a própria resistência do corpo, desde o ritual evangélico diário de, no mínimo, três horas, até as performances desenvolvidas através da pesquisa. Desse modo, um leque de novas possibilidades artísticas passou a ser explorado, e a produção se diversificou.

Luísa visitou uma fazenda e presenciou o abate de um carneiro, filmado através de uma fresta que, ao mesmo tempo, vela e desvela a cena. No registro, o silêncio é tão impactante quanto o próprio ato: com o corte no pescoço do animal, possíveis ruídos desaparecem. Já nas captações realizadas no centro de Hemodiálise do município, a periodicidade dos tratamentos dialoga com a rotina dos rituais religiosos, já que nas duas situações está presente o filtrar do sangue que simboliza o ritual de purificação: no caso da igreja, em relação à alma, e no caso dos hemofílicos, ao corpo. Os símbolos e a linguagem religiosa também marcaram as performances desempenhadas até agora: em uma, a artista fica de braços abertos em forma de cruz frente a um muro, e em outra lê a bíblia em meio a um rebanho de ovelhas.

Fotos: Joba Migliorin

Dentro desta perspectiva de atuação, uma série de atividades está sendo articulada pela artista e pelo produtor Joba Migliorin. No dia 8 de maio, a artista realiza uma oficina que discute a intersecção entre a performance e as práticas ritualísticas. Entre as ações que integram o cronograma para os próximos dias estão as gravações em uma antiga fábrica de línguas da região e uma performance no campo em que a artista ficará repetindo a palavra “glória” até a exaustão. Ela prevê uma duração de 12 horas de desempenho para a atividade, que formaliza artisticamente a prática do sacrifício fruto desta investigação.

Veja aqui as entrevistas realizadas com Luísa:

Antes da residência: Sobre inspirações, começo da pesquisa, interesses, Feliciano, hipnose.

Durante a residência: Sobre o andamento do projeto, o culto, o fato de ter sido exorcizada.