Exposição de Lia Menna Barreto


Exposição “Pele de Boneca”, da artista Lia Menna Barreto, abriu o ano de 2009 no Atelier Subterrânea (Av.Independência, 745/subsolo). A mostra comemorou os 25 anos de produção da artista tendo como suporte bonecas. Ao recortar as cabeças de bonecas e transformá-las em tiras, a artista planifica esses volumes, dando a ver o interior e o exterior dessas peles.

Quando penduradas, lado a lado, essas tiras formam um malha texturada, em que o espectador é convidado a ingressar. A abertura da mostra será dia 12 de março, quinta-feira, às 19h. Haverá sorteio da obra “Tira de sapos” (4,8 m), doada pela artista, às 21h30min. Os números estarão à venda no local por 5 reais, a partir das 19h. A conversa com o artista será no dia 28 de março, sábado, às 16h (mediação de Maria Helena Bernardes).Mais informações: www.subterranea.art.br

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Relato da Artista

Lia Menna Barreto relata sua experiência com a Subterrânea na seção VIDA DE ARTISTA darevista LUGARES da Fundação Iberê Camargo. Leia aqui.

Apreciação crítica de “Pele de Boneca”

Toda a representação é reapresentação de algo conhecido, ensinou Aristóteles, em sua Poética, defendendo o direito da arte à imitação. Em outras palavras, é o deslocamento de um objeto, figura ou cena de seu contexto original que permite à arte gerar conhecimento. Transpostas de seu ambiente, insistiu o filósofo, até as coisas repulsivas ou deformadas se tornam interessantes, mencionando a serenidade com que admiramos um cadáver representado em uma pintura. Relembrar o ensinamento de Aristóteles faz com que a invenção da apropriação, bem mais recente, soe como necessária redundância milenar.

No sítio arborizado, onde ficam sua casa e ateliê, Lia Mena Barreto fala sobre a recepção pública de seu trabalho, dizendo que o termo “perversão” é frequentemente associado a seus procedimentos e escolhas artísticas. Durante muito tempo, a expressão a desagradou porque sugeria maldade. Mais recentemente, porém, passou a admiti-la ao falar de seu trabalho. “Eu perverto, sim, o significado das coisas: um brinquedo é um objeto inanimado; eu injeto calor e ele se move, toma vida; eu corto a cabeça dele, e o ar, lá de dentro, é liberado, ganha o espaço”. Complementou: “perverto o significado da boneca quando a retiro do contexto da infância e a trago para o mundo adulto do artista”.

Há os que manifestam repulsa diante dos trabalhos de Lia; outros, indignação; outros, ainda, vêem acionada a curiosidade mórbida, como pode ocorrer nas casas de espetáculo e em algumas sessões de cinema. Há quem desfrute de seu conteúdo filosófico e estético, como pode acontecer em museus e bibliotecas. Há os que despertam para um terror metafísico, como ocorre nas igrejas e nos cemitérios. Há, porém, os que neles vêem mecanismos – como se passa nas salas de cirurgia e nas oficinas de reparos –, deixando-se encantar por seu poder de animar o inerte, de libertar o ar do interior dos corpos, de transformar o plástico em pasta, em cinzas ou, dele, fazer brotar raminhos de avenca. Como Lia. Cada um, cada um.

Como crianças aterrorizadas pelas sombras na parede do quarto, trememos diante do que possa haver de realidade na representação do mal. Certas coisas, aprendidas na infância, convêm levar para toda a vida.

Apreciação de Maria Helena Bernardes

março de 2009.
Abertura: 12 de março, quinta-feira, às 19h
Sorteio da obra doada na abertura, a partir das 21h30 | números a R$5,00
Encerramento: 10 de abril de 2008
Conversa com artista (mediação Maria Helena Bernardes): 28 de março, sábado, às 16h
Local: Atelier Subterrânea (Av.Independência, 745/Subsolo)
Visitação de segunda a sábado, das 14 às 19h
Informações e visitas agendadas por ateliersubterranea@gmail.com