Na quarta-feira (20/03) às 20h, o poeta e compositor Juli Manzi participa da conversa “Transcriações: reinventando poemas em meios eletrônicos” sobre a nanopoesia, na Subterrânea (Independência, 745). Manzi realizou, no dia 3 de março, o primeiro poema feito com nanoescrita em língua portuguesa, e o primeiro realizado no Brasil. Experiências similares com poesia já foram realizadas em outros países, como na Cardiff Univesity (UK), em 2007. As transcriações são versões para poemas originais feitas com uso de outra mídia, que buscam recriá-los a partir da noção de tradução inventiva. A prática já foi adotada como proposta para a tradução de poesia na obra de Augusto e Haroldo de Campos, Roman Jakobson e Julio Plaza.

Desde 2006, Manzi desenvolve a tese de doutorado intitulada ““Transcriações: reinventando poemas em meios eletrônicos” no Instituto de Artes da UNICAMP, na qual propõe a realização de transcriações de poemas usando softwares de áudio, vídeo e animação. Também faz parte da ideia da pesquisa uma transcriação utilizando uma mídia diferenciada, inusitada ou pouco usada. Uma solução para encontrar esta mídia surgiu no ano passado, em uma conversa entre Manzi e seu irmão Giancarlo Tosin, físico responsável pela Divisão de Magnetos do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). No conjunto das possibilidades avaliadas, a nanotecnologia – resumidamente entendida como a manipulação da matéria em escala atômica – foi a que melhor se encaixou no propósito, sobretudo por apresentar a possibilidade de escrita (nanowriting) como fato já consumado.

Ao optar pela nanotecnologia, Manzi lembrou-se do poema-escultura “Infinitozinho”, de Arnaldo Antunes, vista durante a II Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre (1999).

“Quando cogitamos a nanotecnologia, lembrei-me do poema-escultura “Infinitozinho”, de Arnaldo Antunes, que vi na ocasião da II Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre (1999). A associação se deu, muito provavelmente, por relações de semelhança entre o conteúdo do poema e o novo ambiente que estava sendo gerado para a transcriação. Pelas relações entre o diminutivo e o muito pequeno. As propriedades semânticas do poema pareciam caber perfeitamente no contexto da nanoescritura. Parecia ser um típico caso de tradução entre diferentes meios (intersemiótica) onde as características materiais do suporte empregado na tradução propõem um direcionamento criativo para a reinvenção do original. A possibilidade de transcriar a obra neste meio dez anos após sua primeira exibição soou, portanto, como um desafio instigante e plausível de realização.”

O procedimento foi realizado no dia 3 de março por Luiz Henrique Tizei, pesquisador e doutorando no Instituto de Física (UNICAMP), em Campinas. A palavra-poema foi escrita de trás para diante, a partir da extremidade livre do nanofio. O material utilizado foi um microscópio eletrônico de transmissão em varredura (STEM) modelo JEOL2100F-URP, e um nanofio de Fosfeto de Índio (InP). As medidas do poema são da ordem de 35 X 440 nanômetros (nm) – mil vezes mais fino que um fio de cabelo. Um nanômetro vale um milionésimo de milímetro, ou bilionésimo de metro, tendo como símbolo nm.

Na Subterrânea, o poeta e compositor fala sobre sua pesquisa e o desenvolvimento deste procedimento até então inédito. A ideia é que as imagens do nanopoema sejam expostas inicialmente em banners impressos, como um poema-cartaz.

 

O QUE: “Transcriações: reinventando poemas em meios eletrônicos” – Conversa com Juli Manzi
QUANDO: 20 de março, quarta-feira, às 20h
ONDE: Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745. Porto Alegre) – Entrada franca

Créditos do experimento:
Projeto e Idealização: Juli Manzi, Dr. Giancarlo Tosin e Prof. Dr. Daniel Ugarte
Realização: Luiz Henrique Galvão Tizei
Supervisão: Prof. Dr. Daniel Ugarte
Prepararam a amostra (cresceram o nanofio): Profa. Dra. Mônica A. Cotta e Dra. Thalita Chiaramonte
Orientadora da pesquisa de Doutorado (IA/UNICAMP): Profa. Dra. Maria de Fátima Morethy Couto
Poema original: Arnaldo Antunes – escultura de 1,25 m. construída com letras de alumínio pintadas, exposta inicialmente na II Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre, 1999.