Mostra individual de Rogério Livi


Na exposição Microvariações sobre um tema, que abre dia 11 de setembro, quinta-feira, às 19h, no Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745/Subsolo), o artista Rogério Livi exibe desenhos que projetam e registram eventos fugazes. Com instrumentos simples como bolhas de sabão, tinta, canudo e papel, o artista constrói com paciência estruturas delicadas que repentinamente estouram e imprimem no plano o inusitado. A partir desses resíduos gráficos, uma coleção de desenhos vai sendo composta, provocando o olhar do espectador a vestir lentes para observar de perto as sutilezas do (micro)cosmo. Ainda na abertura da exposição, haverá sorteio de obras doadas pelo artista às 21h30min. Os números estarão à venda no local por 5 reais, a partir das 19h. A conversa com o artista será no dia 27 de setembro, sábado, às 16h30min, no Atelier Subterrânea.

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Rastros da impermanência

Repentinamente uma pequena bolha de sabão e tinta se desfaz deixando sua impressão e a impressão desse momento sobre uma folha de papel. Quanto tempo isso dura?

Quanto tempo dura uma explosão solar, o olhar sobre essas pequenas línguas de fogo que se agitam no fogão à lenha e se consomem? Quanto duram as turbulências do vôo e do espírito? Quanto tempo dura a arte?

Um século dura cem anos. Para alguns esse tempo parece infindável na espera de um futuro — muito mais do que milhares de mil e uma noites condensadas —, e para outros, um século é sem anos (o presente se re-apresenta).

O século vinte foi particularmente generoso em incorporar utensílios não-usuais e não-tradicionais dentro de um fazer artístico muitas vezes às voltas com práticas tradicionais, bem como em incorporar a temporalidade e a ação nos processos de criação. Lembremos, por exemplo, de algumas pinturas do grupo japonês Gutai, onde o pincel era substituído por um pequeno carrinho contendo tinta, que se deslocava sobre uma tela colocada no chão. Outras vezes eram os pés, ou os pneus entintados de uma bicicleta que atravessavam essa superfície.

Rogério Livi utiliza coisas muito simples: bolhas de sabão e tinta, canudo, papel. Mas também, utiliza algo do que lhe traz a paciente observação, e sobretudo, algo do que lhe traz a surpresa, a admiração, a delicadeza, o acaso, a impermanência. Quais são os bons utensílios e materiais para a arte? Todos aqueles que con-fluem no infinito de sua invenção e possibilidade.

Ao olharmos para seus trabalhos podemos imediatamente associar imagens e coisas. De um momento ao outro vejo sóis e células, fecundações e micro explosões, florações de círculos, eclipses em chamas, arquipélagos geométricos, constelações desconhecidas, recortes internos de árvores e planetas. É possível. Mas é possível também o olhar sobre a literalidade desses eventos. Repentinamente como num seco estalar de dedos, posso interromper esse processo associativo e perceber somente respingos e rastros de esferas transparentes, maleáveis, de frágil e lúdica existência; perceber somente as marcas de um instante decisivo e único, algo que foi, ficou sobre o papel; perceber as seqüências de instantes, e assim, um instante entre instantes.

O olhar como um observatório instável da existência. E a existência é frágil e passageira, uma conversa inesgotável com a finitude, que por vezes deixa suas marcas nos papéis e nas nuvens, no coração ou na memória.

Apreciação de Hélio Fervenza
Artista Plástico, Doutor em Artes pela Universidade de Paris I –Panthéon Sorbonne, França.
Porto Alegre, agosto de 2008.

 

Abertura: Quinta-feira, 11 de setembro, às 19h

Sorteio na abertura , a partir das 21h30 | números a R$5,00
Local: Atelier Subterrânea – Av. Independência, 745/Subsolo, Porto Alegre/RS
Visitação: de segunda a sábado, das 14h às 19h
Conversa com a artista: sábado, 27 de setembro, às 16h
Encerramento: 6 de outubro de 2008