Mostra individual de Edith Derdyk


ainda onda – Edith Derdyk
Intervenção e lançamento do livro:
Disegno.Desenho.Desígnio – Editora Senac/SP
Atelier Subterrânea – Porto Alegre/RS
Na instalação ainda onda a artista paulistana Edith Derdyk apresenta, no Atelier Subterrânea, uma zona de combate silencioso entre o livro de paredese o mar inteiro e a série de fotos ainda onda. Procedimentos de acúmulo e repetição criam linhas imaginárias em trânsito que deslocam os sentidos da folha de papel em branco. Da tensão das pilhas de papel suspensas na parede por parafusos oxidados, surgem pequenas vagas onduladas, resultantes de uma escritura cega. Versos atravessam o pensamento e inscrevem-se sobre o papel, num (re)fluxo de (des)aparições que formam uma massa gráfica negra.

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A onda, a montanha

Em conversa sobre os trabalhos que vai mostrar em Porto Alegre, Edith Derdyk cita dois poetas brasileiros, ambos de Pernambuco, e um personagem mítico, da Antigüidade greco-romana. Um poeta diz respeito àquilo que, neste momento, serve de pretexto para a artista: certo gosto pela repetição, determinado ritmo, uma cadência sonora. O segundo poeta, que tantas vezes apareceu e ainda aparece como antítese do primeiro, evoca, assim como a figura da lenda, a maneira como Edith trabalha: também aqui, curiosamente, trata-se de repetição e insistência.

O primeiro poeta, Manuel Bandeira, dá o mote para a construção de algo que é livro, é desenho e é onda: “A onda anda / aonda anda / a onda? / a onda ainda / ainda onda / aonde? / aonde? / a onda a onda”.

João Cabral, o poeta que, entre o inútil do fazer e o inútil do não fazer, prefere o inútil que age, serve, antes de tudo, como modelo para ação: o lirismo seco, a milimétrica ambição construtiva, a arte de saber parar e podar. Daí também o esforço de Sísifo: todos os dias rolando a mesma pedra até o alto da montanha, pedra que ele deixa despencar, para, de novo e mais uma vez, levá-la até o alto, dia após dia, ao longo dos tempos.

Para Edith, o que interessa, presumo, é antes de tudo o inútil do fazer, menos a glória diante da obra concluída. Sobretudo, rolar a pedra até o topo da montanha.

Fazer é arte da insistência, de precisar percorrer o caminho para saber aonde se vai chegar, como as linhas que Edith estende entre uma parede e outra, linhas que ela estende como quem desenha, ou, ainda melhor, como quem rasura, como quem tenta encobrir e incorporar um erro, em busca da imagem mais precisa, necessária.

Nos trabalhos que vêm a Porto Alegre, Edith sobrepõe papel em branco, parafusos e palavras. O desejo é ultrapassar a função mais ordinária de todas essas coisas: que o papel com um furo deixe de ser papel com furo, que o parafuso vire instrumento, vá lá, de pintura, que a palavra enfim se torne figura. O conjunto, ou ainda, o esforço de combinar isso tudo em um conjunto, cria um ritmo, uma cadência. Uma onda. A onda sobe a montanha. Subir a montanha é inútil, mas entre isso e não subir…

Apreciação de Eduardo Veras
Doutorando em História, Teoria e Crítica PPGAVI- UFRGS, julho de 2008.

 

Data da abertura: quinta-feira, 7 de agosto, às 19h

Sorteio da obra doada às 21h30min, na abertura (números a 5 reais)
Local: Atelier Subterrânea – Av. Independência, 745/Subsolo, Porto Alegre/RS
Visitação: de segunda a sábado, das 14h às 19h
Conversa com a artista: sábado, 9 de agosto, às 16h
Encerramento: 5 de setembro de 2008