A quarta exposição coletiva e última mostra do Prêmio Energisa de Artes Visuais apresenta os artistas Carlos Mélo (PE) com a obra em vídeo Três Invertido, Rafael Pagatini (RS) com a xilogravura Conversas com a paisagem, e Túlio Pinto (RS) com a instalação Nadir #9.

A exposição fica em cartaz até o dia 23 de novembro na Usina Cultural Energisa em João Pessoa (PB) na Av. Juarez Távora, 243.

Confira abaixo o texto de Eduardo Biz sobre a obra de Túlio Pinto

 

 

A queda interrompida pela gravidade

Como acontece nos passes de mágica, quando se materializa aquilo que era aparentemente impossível, a arte de Túlio Pinto faz duvidar sobre a realidade dos fatos e incita a questionar se a existência da obra é forjada ou real.

Causando uma espécie de ilusão de ótica, “Nadir” desperta um estado de alerta que faz o espectador buscar atentamente por um deslize qualquer, uma inexistente instabilidade que, a qualquer momento, revele que tudo não passa de um truque. Não há aqui, entretanto, nenhuma ilusão incapaz de ser explicada pela física.

Trata-se de uma lâmina de vidro inclinada, de 220 centímetros de altura, 90 centímetros de largura e 0,8 cm de espessura, cuja queda é interrompida por um cabo sintético quemantémuma pedra a alguns centímetros do chão. A outra ponta do cabo está amarrada a uma segunda pedra, criando um grafismo flutuante que, simultaneamente, sustenta e faz levitar a escultura. O equilíbro do vidro torna-se um evento ancorado e desenhado no espaço.

O contraste de forças — característica bastante presente na linha de pensamento do artista — resulta em um equilíbrio improvável que coloca o frágil versus o bruto. Ao inverter as potências de uma pedra e de uma lâmina de vidro, “Nadir” revela simultaneamente a força e a fragilidade oculta nos materiais. É precisamente neste delicado momento que a obra localiza seu estado de graça: na precisão estática que mantém de pé aquilo que aponta para um colapso iminente.

Em outras palavras, a obra cria uma zona de tensão na qual qualquer instabilidade se acentua, inclusive a do próprio espectador. Ao ver-se em contato com um campo gravitacional que foge da ordem de seu conhecimento, o espectador se percebe frágil enquanto ser vivo. É preciso reaprender sobre si mesmo quando se é exposto a alternativas que coexistem na mesma realidade.

Deste modo, faz sentido o título da escultura. Nadir é o termo utilizado na astronomia e na geografia para designar o ponto inferior da esfera celeste segundo a perspectiva de um observador na superfície do planeta. É a linha imaginária traçada a partir de seus pés até o outro lado da Terra; um canal por onde o corpo flui até o infinito.

Em vez de apontar verdades, a obra conduz ao conhecimento de uma outra realidade possível. Por meio de um jogo lúdico, em muito semelhante a um truque de mágica, “Nadir” ajuda a compreender o que nosso pensamento condicionado se limita a considerar impossível: a existência, ainda que oculta, do outro lado da moeda.

 

Eduardo Biz

Setembro de 2014