Primeiro selecionado do Projeto VETOR, Ícaro Lira fala sobre sua proposta de residência na região do litoral sul do estado e suas expectativas. O artista cearense chega no dia 10 de março e participa do lançamento do projeto VETOR no dia 16, na Subterrânea.

 

Sobre “Náufrago”

Durante o mês residência, Ícaro Lira irá percorrer a região entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos em uma espécie de investigação arqueológica sobre os elementos naturais e arquitetônicos do local, assim como as mudanças que este sofre. Os  acidentes marítimos que provocam alterações no ambiente, desde novos faróis até adaptações da fauna e flora local, sustentam a proposta de investigação e percurso, que irá espontaneamente contar com a presença de moradores da região. Serão resultantes deste percurso videos-diários, fotografias, catalogação dos “sítios arqueológicos”, cadernos de viagem e instalações com os objetos encontrados.

“Esse projeto tem um pouco dessa vida de Jangadeiro”

 

Teu projeto é basicamente uma investigação in loco. O que tu pretendes avaliar com essa pesquisa?
Pretendo investigar a região da Lagoa dos Patos como uma espécie de falso Arqueólogo, a partir dos objetos encontrados na areia levados pelo movimento das marés, das embarcações ali encalhadas, das estações de trens abandonadas, do cemitério de sambaquis, do ciclo reprodutivo dos peixes o fluxo migratório dos pássaros e como os moradores locais lidam com esses movimentos.

 

Tu já tens um trabalho voltado para estas questões da memória dos espaços, de uma atividade de coleta e reflexão que tem um viés de deslocamento. Como “Náufrago” se diferencia destes outros projetos que tu já realizaste?
Artista Náufrago é uma ideia do Artur Barrio de trabalhar com o que você tem em mãos. Com o mínimo possível. Para o VETOR, pretendo investigar os vestígios, o que ficou soterrado na areia. Tenho procurado estar em deslocamento e participar de residências artísticas por ser um formato que de alguma forma responde muitas das minhas inquietações com o sistema da arte de salões, galerias, instituições publico-privadas etc. Percebo que a residência não dá conta de tudo e tem seus próprios paradoxos, mas é o lugar onde me sinto mais a vontade para produzir.

 

Já tinhas feito anteriormente alguma investigação em um ambiente “marítimo”? Quais são tuas expectativas, visto que tens a ideia de trabalhar com o que irás encontrar nesta região?
Sou de uma cidade de litoral, Fortaleza no Ceará e vivi muito tempo no Rio de Janeiro. São duas cidades com formas quase antagônicas de se relacionar com o Mar. Fortaleza tem a figura muito forte do Jangadeiro. Que é uma profissão Solar, Solitária e Muda. Esse projeto tem um pouco dessa vida de Jangadeiro.

 

Onde focarás teu olhar durante esta residência? Nos objetos, nas pessoas? Para onde voltarás tua atenção nestes primeiros momentos?
Quase sempre trabalho em parcerias com outros artistas. No VETOR, vou viver um mês basicamente sozinho. Tenho a expectativa de trabalhar de alguma forma em parceria com algum morador da região. Não sei exatamente o que vou encontrar na região e gosto da ideia de não ter muito as coisas planejadas. O Artista como o Garimpeiro (Cildo Meirelles), que vive de procurar o que não perdeu.

 

Como pensas o relacionamento com a comunidade neste projeto? O registro oral e o contato com os moradores também são objetivos de tua proposta?
Este projeto parte da ideia de ser ao máximo integrado e realizado em parceria com a comunidade da região, contudo não exige um comprometimento formal desta, pelo ao contrário, é a partir de relações de afeto que busco trabalhar. Neste sentido, o formato de residência é muito favorável para a aproximação com os moradores, as conversas com a comunidade local são imprescindíveis. Quero que esses encontros funcionem como um laboratório aberto, onde possa trocar, escutar e apresentar todos os materiais coletados, fotografias, videos,objetos e compartilhar o processo da residência. pretendo também construir um site que sirva como uma espécie de arquivo aberto desta “exploração arqueológica”.

 

Lançamento do Projeto VETOR
Quando: 16 de março, sábado, 16h
Onde: Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745/Subsolo)
O que: Bate-papo com Ícaro Lira (CE) e gestores da Subterrânea (Gabriel Netto, Guilherme Dable, James Zortéa, Lilian Maus e Túlio Pinto).