Duas exposições na galeria LOGO: Palmeras de Humo – obras caóticas do artista argentino Tomas Spicolli e Instâncias do Desenho – produção plural do atelier gaúcho
Sobre a LOGO: A galeria LOGO, inaugurada em julho de 2011, é porta de entrada para conhecer uma rede de artistas que emerge de um plano paralelo ao mainstream da arte, com nomes ligados a subculturas urbanas e ao cenário underground. Nesse sentido, surge um novo conceito de “outsider”: artistas desconectados de uma formação acadêmica linear, que seguem suas pesquisas de ordem artística, filosófica e cultural de maneira independente. Mesmo fora do circuito oficial, eles construíram trajetórias e um público sólidos, aparecendo em exposições, livros e revistas internacionais. Na LOGO, o trabalho desses artistas é apoiado pela pesquisa de um grupo de curadores que entende esses movimentos, de onde desponta um novo interesse pela pintura, pelo desenho e pela colagem, entre outras manifestações, como a música experimental e a performance. Esse conjunto de expressões é então, pela primeira vez, exibido em um espaço reconhecido pela arte contemporânea, pois pelo endereço da LOGO já passaram duas galerias emblemáticas de São Paulo, a Raquel Arnaud e a pioneira Subdistrito. Quanto ao nome LOGO, ele simboliza a consciência de que o mundo hoje é movido pela comunicação visual. Uma analogia para a produção artística que, como uma boa logomarca, atrai olhares e comunica sem palavras, para então estimular a interpretação de diferentes camadas de significado.
Instâncias do Desenho
Ocupando as salas 2, 3 e o subsolo da LOGO, a exposição Instâncias do Desenho, em sua 3ª edição, traz a São Paulo um recorte da produção do Atelier Subterrânea, espaço artístico independente atuante em Porto Alegre/RS. Além de exibir os trabalhos de seus integrantes, a exposição apresenta a documentação sobre as iniciativas realizadas pelo coletivo independente. O resultado plástico apresentado nas ações, nos desenhos, nas fotos, nas esculturas e nos seus processos, contrariando a tendência ao espetáculo, busca sublinhar uma dimensão original do desenho como suporte e conceito. Em sua primeira edição a mostra foi exibida na Galeria Augusto Meyer (Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre) e, recentemente, esteve em cartaz na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ).
“A substância da autonomia conquistada pelo desenho se encontra ali onde alguma coisa se traça e se materializa, não apenas na questão da linha – no sentido tradicional do desenho – nem tampouco no sentido que uma parcela dos artistas contemporâneos têm adotado largamente, quando toda vez que pintam sobre o papel, chamam isso de desenho, e aquilo pode ser considerado pintura sobre papel. Contudo, no caso desses seis artistas, há o sentido maior de desenhar, de traçar algum caminho, traçar alguma coisa. (…) O fato de esses artistas participarem de um mesmo coletivo – Atelier Subterrânea – faz com que seus trabalhos de uma forma desordenada troquem influências e reverberações, e por conseguinte novas instâncias e apropriações acerca do desenho tornam-se aparentes.” Trecho do texto crítico O desenho como variável, de Felipe Scovino.
A Associação Cultural Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745/Subsolo – Porto Alegre/RS) é um espaço artístico independente, gerido pelos artistas Adauany Zimovski, Gabriel Netto, Guilherme Dable, James Zortéa, Lilian Maus e Túlio Pinto, em que buscam ativar uma rede de artistas, críticos, professores e o público interessado em arte com o objetivo de criar, produzir e refletir sobre a produção contemporânea de artes visuais. Desde 2006 a Subterrânea produz exposições, conversas com artistas, cursos, exibições de vídeo, performances, lançamentos de livros, palestras e residências artísticas, buscando aproximar a produção artística do público.
A seguir imagens dos trabalhos (respectivamente): Adauany, Tulio, Gabriel, James, Guilherme e Lilian.
Palmeras de Humo
A exposição Palmeras de Humo (Palmeiras de Fumaça em português, traduzido do castelhano) é uma ponte interdimensional para as realidades ainda não catalogadas de Tomas Spicolli. Pinturas, colagens, serigrafias, esculturas, vídeos, músicas e zines/livros de artista se confundem, com técnicas e linguagens visuais passando de um suporte ao outro, orientando e desorientando essa nova tempestade gráfica de Spicolli. Entre as obras que habitam a sala 1 da LOGO estão colagens inéditas da série Espiritus Alados, amplificações de cadernos que o artista utilizou nos últimos 15 anos e novos experimentos audiovisuais, materializados através da performance de seu projeto musical Tilda Flipers e da projeção do vídeo-colagem-animação Version Tiniebla.
Natural de Zarate, província de Buenos Aires (Argentina), o artista e músico Tomas Spicolli é uma verdadeira entidade da cultura underground em seu país, assim como no Brasil, especialmente em São Paulo, onde também expõe e toca intensamente desde o final dos anos 90. Sua expressão corre em um fluxo graficamente caótico e sonoramente estrondoso, que pode ser acompanhado através de zines, discos, shows, indumentária, vídeos, intervenções urbanas, exposições e obras de arte. Spicolli distorce diferentes técnicas de reprodução de imagens, manipulando a imperfeição da fotocópia, do stencil, da serigrafia e da cópia carbono para acrescentando ruído às suas pinturas, desenhos e colagens. De sua constância e voracidade surge um universo paralelo em eterna explosão, onde tudo vibra e voa pelos ares, incluindo aviões e criaturas aladas.
Os desastres aéreos de Spicolli ou suas apresentações de criaturas, como em figurinhas colecionáveis, que marcam tantas outras obras, bastam por si só para agarrar o olhar. Porém, seu trabalho convida a desvendar as raízes das culturas do skate e do punk, com ecos da arte de Jim Phillips e Raymond Pettibon, de marcas como Zorlak e Blockhead, das revistas Cerdos y Peces e Thrasher, de bandas como Crass e Agnostic Front, entre tantas outras. Culturas que, na America Latina, são marcadas pelo próprio trabalho de Tomas Spicolli, a exemplo das capas de discos que fez para a mítica banda argentina Fun People, ou da identidade visual de seus projetos musicais, como Delmar, 7MAGZ e Tilda Flipers. Desde 1997 Spicolli expõe e toca regularmente em centros culturais, galerias de arte e casas invadidas. Em 2011 teve seu primeiro livro monográfico, intitulado Bazofia, publicado pela editora argentina Tren en Movimento, a mesma que agora, em conjunto com os selos Unilover e Sucio y Desprolijo, acaba de lançar o novo CD/DVD do Tilda Flipers.
Palmeras de Humo – Tomas Spicolli (sala 1)
Instâncias do Desenho – Atelier Subterrânea (salas 2 ,3 e subsolo)
Abertura 16 de junho, sábado, das 11h às 19h
Visitação de 16 de junho a 7 de julho
de terça a sábado, das 11h às 19h
Release da exposição em inglês: clique aqui
galeria LOGO
Rua Artur de Azevedo, 401
São Paulo – SP
tel (11) 3062 2381
www.galerialogo.com