Vivian Herzog participa, até o dia 6 de setembro, da exposição Três Estações, na Subterrânea. No dia 23 de julho, ela realiza a oficina “A cozinha do desenho: confecção e experimentação de materiais alternativos”, em que ensina receitas de materiais tradicionais do desenho, como pastel seco, nanquim e aquarela líquida.

Foto Anderson Astor

Como tu vês a questão da temporalidade no teu trabalho?

Eu tento trabalhar com tempos diferentes de linha, de massa. A pintura tem um tempo mais de camada, mas, mesmo assim, acho que há uma falta de limite entre o que é pintura e o que é desenho. O desenhos, às vezes, é pictórico e a pintura, às vezes, é desenho no sentido de deixar ver cada coisa ali, no seu tempo, no seu rastro de linha. A pintura tem essa relação mais de camada sobreposta que tu vais transformando a cor, mas tu não enxergas o que foi feito. Tem uma ideia que eu gosto que é de reservatório, que é tu reservares algo – sempre são conjuntos, eu não consigo fazer um trabalho só, eles se afirmam pela variação, repetição de alguns elementos – ainda que seja muito difícil repetir, mas tem essa ideia de que eles juntos formam um trabalho “não sozinho”. É essa temporalidade de linha, de massa, quase como se eu interpretasse. É como tu interpretas as coisas. Interpretar a linha em uma estampa, uma linha mais massuda, outra mais leve, e jogar entre estas intensidades diferentes. Meu desenho está mais gráfico, antes ele era mais gestual. O gesto mais concentrado. E aquela série estávamos apelidando de “pancadinha”

Por quê?
[risos]
Porque ela é forte e com cores doces. Então é uma pancadinha.

E foi de uns tempos pra cá que começou essa mudança do gestual pro gráfico?

Sim, mas acho que sempre os dois estão juntos. É uma questão de explorar a superfície e uma ideia de que aquilo que está em volta entra no desenho – interpretado de uma maneira abstrata, mas às vezes lembra flor, as flores que estão em casa.

 

E nisso há um diálogo com a estação da natureza, a estação do tempo da natureza?

Acho que as flores que estão no meu trabalho são mais flores de estampas, de superfícies da volta da casa – a toalha de mesa, ou até mesmo a flor que compramos na feira. É bem esta ideia de recolher o que está na volta, de um reservatório gráfico, em que entra massa, linha. A natureza entra nesse sentido de superfície.

 

A gente está iniciando uma pesquisa sobre a interpretação do ponto de vista dos artistas, esta relação do público com a obra e como o artista enxerga esse ato interpretativo. Como é vês esta relação?

É muito tranquilo. Penso que cada um tem sua liberdade. Se quiserem colocar a obra em casa para enfeitar, tudo bem, porque veio de um ambiente de cotidiano, então é natural que vá conviver com a vida e com as flores, flores da estampa, da cortina, do crochê. Tem essa ideia de um manual, de um fazer manual. Também tem essa questão da renda, porque é um trabalho forte, mas também tem um tramado. O público pode pensar que, se eu posso correr com a liberdade da linha, assim, tão livre, qualquer um pode desenhar.

Aqui tem uma lógica, ela pode se transformar, mas eles foram feitos em uma série, então o que eu gosto de pensar é que o desenho aqui é generoso no sentido de ele não ter compromisso, de remeter alguma e ao mesmo tempo é algo livre, quase como aquela coisa de riscar a parede. Já fiz também alguns trabalhos de parede. Deixar o material fazer seu percurso. E por mais que eles tenham um gesto, eles também são leves, as cores são super artificiais também, de chiclete, por isso que a gente brinca com a “pancadinha” [risos].

Veja os trabalhos de Vivian Herzog na Subterrânea até o dia 6 de setembro, na exposição Três Estações.

De segunda a sexta, das 14h às 18h