Metáforas ao alcance das mãos

Por Lilian Maus

A exposição Transferências Temporárias, sob curadoria do Atelier Subterrânea, reúne obras em fotografia, escultura, gravura, além de instalações e múltiplos de Diego Passos, Ernani Chaves e Marília Bianchini, na Casa Paralela. Não apenas os artistas, residentes em Porto Alegre, são levados a produzir trabalhos e a compartilhar seus conhecimentos com o público de Pelotas, mas, também, as próprias obras potencializam essa ideia de transporte efêmero. Se recorrermos ao sentido etimológico da palavra metáfora, em grego, teremos “meta”, que significa “além” e “pherein”, que quer dizer “levar, transportar”. As obras exibidas se lançam como metáforas ao provocarem os visitantes a reinventar e deslocar sentidos e materiais. Todos os objetos estão ao alcance de nossas mãos e com suas texturas despertam as qualidades táteis do nosso olhar.

As esculturas delicadas de Ernani Chaves lançam um convite direto à manipulação do espectador, num exercício de compensação de forças, equilíbio e de encaixe vertical das escoras. O jogo parte de peças simples: módulos de madeira, alguns desgastados pelo tempo de uso, outros, produzidos especificamente para a esta função. As diferenças de textura dos materiais e a ideia de empilhamento também compõem as gravuras apresentadas.

Marília Bianchini mostra fotografias de uma paina em bananeira, por meio da impressão em jato de tinta sobre papéis manufaturados. Ao manipular o suporte – papéis de espessura mínima e fibra aparente – a artista retira o peso dos objetos. Nessas transferências, os elementos perdidos da imagem e os acidentes também contam histórias.

Diego Passos, na instalação “Manual Prático” utiliza o próprio corpo como matéria de trabalho, burlando as regras convencionais da fotografia. Seus objetos são desalinhados, as figuras aparecem de ponta-cabeça, um ponto de spray escorre pela superfície da foto, enquanto alguns vãos do corpo figurado no papel são preenchidos com grafite. A mão interfere e incorpora o erro no processo de construção das imagens. As obras são tratadas como canteiro experimental, onde convivem pensamentos, o corpo e as coisas que nos cercam.

O que se evidencia nos trabalhos dos três artistas é o desejo de materializar sensações corporais tão efêmeras e escorregadias quanto pode ser a própria experiência estética.

 

Fotos Anderson Astor